ESPN: Você não tinha planos de se tornar treinador tão cedo. O que te levou a aceitar o cargo?
Eduardo Baptista: Eu trabalhei com o meu pai Nelsinho por 10 anos. Antes de vir para o Sport, eu estava no Japão, ainda como preparador físico. Decidi voltar, ele, que é o mentor de tudo isso, falou: ‘Se você for voltar, é pra virar treinador’. Isso foi em 2011. Quando voltei para o Brasil, o Sport me acolheu novamente, como preparador físico, mas eu já estava me preparando e estudando para ser técnico. Tive a felicidade de trabalhar com grandes treinadores no Sport, como Geninho, Vágner Mancini, Sérgio Guedes, caras muito inteligentes, e aí fui acumulando experiência, esperando o momento para começar a nova carreira. Mas não imaginei que seria no Sport! As coisas aconteceram muito rápido. Tivemos um início de ano ruim aqui, e me colocaram interinamente para fazer dois jogos de uma competição que estavamos virtualmente eliminados, a Copa do Nordeste. Acabamos campeões (risos)! Os resultados foram vindo, e hoje sou treinador do Sport, com muito orgulho. Foi tudo muito rápido, mas já vinha me preparando há alguns anos.
ESPN: Você disse que vinha se preparando para ser técnico. Como você ‘estuda’ futebol?
EB: Eu procuro ler muito, apesar de ter poucas coisas boas, mas assisto demais. Tenho minha televisão e gravo todos os jogos qeu dá. Acompanho muito o Campeonato Alemão e te digo: isso que aconteceu com a Alemanha, de ganhar a Copa, eu já previa. Não previa que ia fazer 7 a 1 no Brasil, mas já previa esse sucesso. Eu acompanhei os times e a seleção durante anos, tinha certeza disso. Na Copa do Mundo, assisti 70% dos jogos, outros eu gravei. Eu gravo e edito jogos, salvo as jogadas que acho interessantes, as variações que os técnicos fazem, jogadas ensaiadas, e monto meu banco de dados. E converso muito com pessoas do meio do futebol, gente experiente, para aprender mais.
ESPN: E como foi iniciar a carreira de técnico ganhando dois títulos logo de cara?
EB: Foi um maremoto de emoções, muito bom. Desde que o Nelsinho havia saído daqui, em 2009, o Sport não ganhava nada, nenhum título expressivo. O Santa Cruz dominou, foi tricampeão pernambucano, sempre ganhava do Sport… De repente, conseguimos dois títulos, um deles a nível nacional [Copa do Nordeste], e retomamos a hegemonia do Pernambucano. Foi bom demais. O que mais isso me ajudou foi a conhecer melhor esse grupo de jogadores, com quem eu já trabalhava há dois anos, mas como preparador, não treinador. Ganhei o apoio deles, da comissão técnica, da diretoria, e tudo isso culminou em dois títulos e neste bom início de Campeonato Brasileiro.
ESPN: Como é a folha salarial do Sport comparada ao dos grandes da Série A? Como lidar com essa diferença?
EB: As folhas dos 10 times que estão acompanhando a gente ali no pelotão da frente são infinitamente maiores, e temos que lidar com isso… Tem que trabalhar! A Copa do Mundo nos deu uma grande lição: só talento não leva a lugar nenhum, tem que ter futebol de conjunto. É essa a linha que eu implanto aqui. Podemos não ter o aporte financeiro de um Corinthians, um Flamengo, um Cruzeiro, mas o Sport tem salário em dia e muito trabalho. Dentro de campo tem que ter muita doação, eu exijo isso. O Sport não contrata jogador de futebol, contrata atleta. A preparação física é muito forte aqui, e a gente prioriza o físico para suprir essa teórica falta de qualidade.
ESPN: Muito se diz que os técnicos brasileiros estão ultrapassados, e falou-se até em um estrangeiro assumir a seleção brasileira. Concorda com isso?
EB: Não acho que estão ultrapassados. Claro que se você for lá fora e trouxer o (Josep) Guardiola, é um cara que está em um nível superior, mas ele não suportaria dois anos aqui. A cobrança é muito grande. Nenhum país no mundo tem essa cobrança incessante, essa busca pelo resultado imediato. O próprio Joachim Löw perdeu na Copa de 2010 com a Alemanha e ficou no cargo. Se ele fosse técnico do Brasil, certamente teria sido demitido, e não ganharia a Copa em 2014. Aqui, culpa-se o treinador sempre. O cara pega a seleção, faz 10 jogos no ano, treina 30 dias, e a culpa é dele, é ele que mandam embora. Tem que mudar a postura da CBF, da torcida brasileira e da própria mídia, que fica cobrando resultados imediatos. Pode trazer o técnico da Alemanha, o Guardiola, que aposto que não dura dois anos aqui! Porque eles não trabalham para dar resultado amanhã, mas sim com longo prazo. Aqui, querem sempre o ‘já’. Vai ser muito difícil treinador estrangeiro dar certo aqui. Veja o espanhol do Atlético-PR [Miguel Ángel Portugal], durou cinco rodadas do Brasileiro. Lembro também do Daniel Passarella no Corinthians. Agora, tem o (Ricardo) Gareca no Palmeiras, que já já vai começar a sofrer pressão… É muito difícil trabalhar no Brasil… O problema da seleção brasileira vai muito além da nacionalidade do técnico. O problema é a mentalidade.
Fonte: ESPN.com.br – Postado às 13:08